Com método premiado no Nobel, laboratório do CTC/PUC-Rio promove pesquisa para tratamento da fibrose cística
Estudo visa o desenvolvimento de novos fármacos mais reativos à doença
O Laboratório de Síntese Orgânica (LabSint), do Departamento de Química do Centro Técnico Científico a PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), vem desenvolvendo compostos para o combate à fibrose cística. A pesquisa utilizou da metodologia click chemistry, que deu recentemente o Nobel de Química aos pesquisadores norte-americanos Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal e K. Barry Sharpless, e é utilizada para a obtenção de compostos baseados em triazóis. O método permite que substâncias reativas à doença sejam obtidas de maneira mais eficiente, além de viabilizar o desenvolvimento de produtos com alto valor farmacológico
“Conseguimos obter os triazóis em uma única etapa sem a necessidade de catalisador e solvente e, principalmente, sem a necessidade de purificação por coluna cromatográfica, um processo bastante dispendioso na síntese orgânica. O nosso intuito é desenvolver novas metodologias para a obtenção destes compostos de forma a atender os preceitos da química verde”, destaca a Profª Camilla Buarque, líder da pesquisa.
A fibrose cística é uma doença hereditária autossômica recessiva letal que afeta mais de 100 mil indivíduos em todo o mundo. Essas pessoas enfrentam infecções respiratórias recorrentes e inflamação crônica que promovem a remodelação tecidual e que, em última análise, levam à doença pulmonar terminal.
Mutações no gene que codifica a proteína reguladora da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR) causam a doença. O CFTR funciona como um canal regulado por cAMP de cloreto (Cl–) e bicarbonato (HCO3–) localizado na membrana plasmática apical (PM) de vários tecidos epiteliais, dos quais os pulmões são os órgãos mais afetados na FC. Nas vias aéreas, a disfunção da CFTR causa transporte anormal de íons e desidratação da superfície epitelial que reveste as vias aéreas, levando ao acúmulo de muco espesso e comprometimento da depuração mucociliar (MCC). “Como meu filho tem fibrose cística, há uma questão pessoal para trabalhar nessa área. Estou há anos tentando desenvolver parcerias para encontrar novos fármacos para esta doença. Este ano, finalmente obtivemos descobertas promissoras que foram patenteadas e os artigos estão para sair”, conta a professora Camilla.
Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e pelo CNPq, o estudo faz uso do emprego das reações de cicloadição 1,3-dipolar para a obtenção de 1,2,3-triazóis 1,4-dissubstituídos bioativos, para desenvolver produtos com maiores valores farmacológicos. O procedimento conhecido como click chemistry, que foi condecorado no Prêmio Nobel de Química de 2022, possibilitou uma revolução na forma com que os químicos pensam sobre a ligação de moléculas. A técnica consiste em anexar pequenas “fivelas químicas” entre substratos, de modo a viabilizar a produção de moléculas de maior complexidade e variação. “A ação permite a descoberta de muitas novas reações, bem como novas aplicações para as indústrias da biotecnologia e para o tratamento e diagnóstico de doenças”, afirma Camilla.
Além da Profª Camilla Buarque, o grupo de pesquisa é formado por cinco alunos de graduação e três de pós-graduação e um pós-doc. A equipe almeja obter mais recursos para ampliar a biblioteca de compostos, pois um dos desafios é dar continuidade aos estudos em organismos vivos com parceiros da área biológica. Além das pesquisas para o tratamento da fibrose cística, o LabSint vem desenvolvendo compostos para a ação anticâncer (mama, leucemia e glioblastoma), antiviral (Herpes simplex, chicungunya e SARS-CoV19) e antileishmanial.
O LabSint conta com a parceria da UFF, UFRJ, Universidade de Lisboa e Fiocruz-RJ. As entidades são responsáveis pela realização de ensaios biológicos, caracterizados pela investigação dos efeitos de uma substância específica em um órgão isolado ou um organismo vivo.