Plástico nos Oceanos: um problema que vai persistir
Renato Carreira – Professor/Pesquisador do Departamento de Química do CTC/PUC-Rio e coordenador do Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM)
A presença de plásticos nos Oceanos vem sendo cada vez mais reconhecida pela população em geral como um grave problema ambiental, não somente pela degradação que causam à paisagem natural, mas principalmente por representar uma ameaça à vida marinha. Estimativas do tempo de decomposição do plástico nos oceanos variam dependendo do polímero usado na sua fabricação, podendo chegar a 400-500 anos.
Mas o plástico não ‘desaparece’ após esse período, ele vai se decompondo ao longo do tempo, e a isso damos pouca atenção. Esse processo, chamado de intemperismo, é causado por diversos fatores como irradiação solar, variação de temperatura, ação de ondas e da corrente e a atividade bacteriana.
Recentemente, descobriu-se que as sacolas de supermercado, feitas de polietileno, degradam de forma diferente de acordo com a presença de aditivos químicos – essenciais para conferir propriedades específicas para o polímero. Quando liberados na água, esses aditivos são mais tóxicos que o polímero e podem bioacumular.
O intemperismo também promove a quebra do plástico em partículas chamadas de microplásticos (menores do que cinco milímetros), que podem ser incorporadas por animais nos níveis básicos da cadeia alimentar e representam uma ameaça à biodiversidade, pois, além de conterem aditivos, podem transportar outros contaminantes orgânicos presentes na superfície.
No Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM) do CTC/PUC-Rio estudos recentes demonstraram a presença de microplásticos nas águas da Baía de Guanabara. Trata-se de um problema ambiental relevante, reflexo da falta de manejo de resíduos sólidos – que se tornam microplásticos – na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Mais recentemente – dados ainda não publicados – encontramos microplásticos próximos ao Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MoNa Cagarras), revelando a influência da baía sobre o oceano costeiro. Esses dados precisam ser mais detalhados, assim como avaliar a exposição da biota a orgânicos persistentes transportados por microplásticos, para traçar um melhor quadro do risco à biodiversidade no MoNa Cagarras devido à poluição causada pelos plásticos.