Com o tema “Cenário e financiamento da ciência no Brasil”, presidente da SBPC reforçou que a situação atual requer mobilização para atuação política mais efetiva diante da falta de recursos e ameaças à pesquisa no País
No dia 18 de setembro, o Prof. Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professor do Instituto de Física da UFRJ, comandou a Aula Inaugural do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio). No formato virtual, cerca de 80 participantes debateram o tema “Cenário e o financiamento da ciência no Brasil”. A SBPC, que tem uma trajetória de luta histórica pela ciência, educação, meio ambiente e democracia, congrega cerca de 160 sociedades científicas de todas as áreas do conhecimento, muitas delas fundadas em reuniões da própria SBPC.
O Reitor Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J. abriu o evento e agradeceu ao Prof. Ildeu por ter aceito o convite para Aula Inaugural do CTC: “Sua presença na nossa Universidade, ainda que de forma remota, é uma demonstração do nosso compromisso com a ciência brasileira, que infelizmente vem sofrendo muito, por não ocupar um lugar de destaque no cenário do nosso país, sobretudo nos dias atuais. O ano de 2020 é, de fato, muito especial, pois estamos completando 80 anos, a UFRJ 100 anos, a UERJ 70 e a Fiocruz 120 anos. Nos orgulhamos de ter no nosso estado instituições que conseguem ultrapassar as vicissitudes das crises, das dificuldades e seguir adiante em relação ao compromisso com a ciência e com a sociedade”. O decano do CTC, Prof. Luiz Alencar da Silva Mello, também agradeceu ao Presidente da SBPC, reforçando que “o tema não poderia ser mais adequado nesse momento tão difícil que nós estamos vivendo”.
Ao iniciar a Aula Inaugural, Moreira reforçou o valor, a tradição e a história da pesquisa científica no País com uma ilustração reunindo representantes brasileiros de diversas áreas como Paulo Freire, José Bonifácio, entre outros. Moreira apresentou os números da ciência no Brasil, mostrando o quanto a produção científica aumentou quase cinco vezes de 2000 a 2017, ainda que o País ocupe o 14º lugar no mundo. Anualmente, cerca de 20 mil doutores e 60 mil mestres se formam no Brasil, mas é um dos países que menos forma na graduação na América Latina, segundo Moreira.
“Há dois anos temos promovido audiências públicas com o Congresso Nacional, já que se trata de um espaço importante de discussão pública e intervenção política no que diz respeito ao financiamento na área”, disse ele, ressaltando que é preciso ter política pública para atender às demandas do setor e transformar isso em inovação para a sociedade. “Os cortes de financiamento, que impactam as empresas públicas e as bolsas de universidades públicas e particulares, têm tido como argumento que pesquisa básica não é importante, que pesquisas de ciências sociais e humanas não são significativas e que é preciso escolher apenas áreas estratégicas de uso imediato, algo que remonta ao século XIX, época do positivismo brasileiro e que reflete uma visão estreita”, alertou Moreira.
Um dos pontos altos da Aula Inaugural foi a apresentação do retorno que a ciência e a tecnologia brasileiras promovem em diversas áreas, como agricultura (Embrapa e pesquisas universitárias), exploração de petróleo em águas profundas e o pré-sal (Petrobras) e empresas de forte protagonismo internacional (Embraer, Embraco e WEG). E, claro, Moreira destacou em sua fala que, em tempos de pandemia, a contribuição da ciência no enfrentamento do vírus da Covid-19 tem sido fundamental e relevante para o povo brasileiro.
Entre os desafios, Moreira reforçou que a pesquisa no Brasil precisa melhorar seu impacto internacional. Outro ponto de destaque de sua fala foi em relação à necessidade de inovação social, de modo que a produção científica vise áreas da cidade, do saneamento, do meio ambiente, da saúde e da qualidade de vida dos brasileiros. Em sua apresentação, atacou a burocracia, o baixo interesse do setor privado em investimento em P&D e a descontinuidade e queda de recursos nos últimos seis anos, como algumas das barreiras para o avanço da ciência, tecnologia e inovação no Brasil. “Além disso, com as deficiências existentes na educação básica, em particular a educação científica, tudo isso gera ondas anticiência que estão presentes no Brasil e no mundo”, disse ele.
Em seu encerramento, o Prof. Ildeu Moreira reforçou a união dos cientistas para mudar a realidade do Brasil: “A gente não pode perder essa dimensão de que a gente pode fazer muito! É um processo de enfrentamento político, não é trivial. Então a gente tem que aprender a apanhar, a ir ganhando, perdendo, avançando a cada instante. Todos nós devemos estar juntos com essa perspectiva de construir um país diferente, a gente pode fazer! O futuro não está dado! Termino com o meu poeta mineiro Drummond: “Ó vida futura, nós te criaremos”. A gente pode fazer diferença e a PUC certamente já faz diferença na ciência brasileira e na sociedade brasileira e pode fazer mais ainda com todos vocês!”
Para assistir à aula na íntegra, basta acessar o canal ECOA PUC-Rio, de educação digital: https://ecoa.puc-rio.br/#/event-detail/453.