Udacity publica entrevista sobre robôs com o Prof. Marco Antonio Meggiolaro

O blog da Udacity Brasil, startup online de cursos, publicou, no último dia 31 de agosto, uma matéria sobre a era dos robôs. Um dos principais entrevistados foi o Coordenador da RioBotz/PUC-Rio, Marco Antonio Meggiolaro, professor do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Técnico Científico da Universidade. Ele abordou o papel que os robôs desempenham no crescimento econômico e no desenvolvimento da indústria, além de falar sobre o futuro da robótica. Confira a matéria, na íntegra:

Na era dos robôs, onde eles estão – e o que de fato podem fazer?

Às vezes pode ser difícil acreditar, mas a realidade já encostou na ficção quando o assunto é robótica – e aos montes. De acordo com a Federação Internacional de Robótica (IFR), a previsão é que o número de robôs dobre até 2020, chegando à impressionante marca de 3 milhões de unidades em atividade em fábricas de todo o mundo.

E apesar de não ser tão próxima da maior parte da população, a tecnologia por trás da fabricação de robôs – definidos como máquinas capazes de executar uma série de ações automaticamente – é considerada essencial para o futuro da humanidade por especialistas e entusiastas da área.

“Sem os robôs, não se teria todo esse crescimento econômico que a gente observa hoje em dia. O maior legado deles é o crescimento. Com o mesmo número de pessoas mas com robôs na linha de produção, você consegue ter uma produtividade muito maior”, afirma o professor Marco Antonio Meggiolaro, doutor pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e coordenador da RioBotz, equipe de robótica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

br-blog-robos-do-futuro-02O estoque global estimado de robôs industriais e a previsão de crescimento para os próximos anos, segundo a Federação Internacional de Robótica

Além de aumentar a produtividade na indústria, qual seria a importância de pesquisar e investir em robótica? Ao contrário do que pode se pensar, os robôs não surgem com o propósito de tomar postos de trabalho dos humanos e gerar desemprego, mas de aumentar a produtividade geral – e liberar humanos para fazerem outras tarefas.

Ao automatizar as tasks mais repetitivas e previsíveis, robôs permitem que empregados sejam capacitados e treinados para outros tipos de trabalho, cada vez mais intelectuais e menos operacionais. Isso daria a chance, inclusive, de melhores salários.

Naturalmente, há no meio do caminho uma transição a ser feita com todo o cuidado, e que envolve debates sérios sobre ética, segurança social e verdades e mitos sobre o futuro do trabalho. Não será algo resolvido da noite para o dia.

A boa notícia é que governos e organizações de todo porte já estão prestando atenção no tema – e indivíduos podem tomar a dianteira para se preparar ao descobrir habilidades e profissões em alta, por exemplo.

Os robôs do futuro? Robôs de serviços

A ideia da robótica surgiu há cerca de um século quando, na década de 1920, o escritor tcheco Karel Čapek descreveu pela primeira vez entidades mecânicas que tinham aspectos de seres humanos – os famosos humanoides.

No Japão, o país que mais fabrica robôs atualmente – inclusive para cuidar da terceira idade –, os humanoides são aceitos sem muitas ressalvas, já que há uma relação quase cultural com seres “fantásticos”, meio humanos e meio máquinas, que aparecem com frequência nos mangás e animes japoneses.

Para Flavio Tonidantel, presidente da RoboCup Brasil e chefe do departamento de Ciência da Computação da Fundação Educacional Inaciana (FEI), os robôs mais interessantes são os que auxiliam nas tarefas diárias, como limpar o chão ou janelas, além daqueles que ajudam no trato com idosos em casa.

“Esses robôs [de serviço] fazem parte da tecnologia assistiva avançada, que não apenas fazem tarefas domésticas, mas também cuidam na nossa saúde e bem-estar. Fazem parte deste escopo de robôs os novos e modernos Pepper, Romeo, Care-o-bot, Nursebot, entre outros. Estes robôs começam aparecer no mercado de forma ainda bem ingênua, mas já mostram seu potencial. Em breve teremos nosso próprio robô assistente”, acredita.

Diferentes tipos de robôs

Claro que não é só de robôs humanoides que se faz a robótica. Os veículos autônomos da Tesla, por exemplo, entram na lista de robôs móveis. Já os braços robóticos, como aqueles utilizados por médicos para performance de cirurgias complexas e no chão de fábricas, são os chamados robôs industriais.

O Japão segue no topo quando se fala desse último tipo. “As maiores empresas de robôs industriais possuem sede no Japão. Embora não seja o país que mais possui robôs industriais quando comparado ao número de pessoas, como a Coreia do Sul e Singapura, é o lugar que lidera o uso de robôs domésticos, de entretenimento e de assistência pessoal. São esses robôs de serviço e de apoio que devem tornar o mercado de robótica mundial ainda mais lucrativo e poderoso nos próximos anos”, pontua Tonidantel.

Para se ter uma ideia de como a Ásia segue investindo no setor, basta colocar uma lupa sobre a Coreia do Sul: em 2016, para cada 10 mil pessoas empregadas, havia 631 robôs em atividade nas indústrias. O país tem a maior concentração per capita de robôs no mundo desde 2010, seguido por Singapura, que tinha 488 robôs para cada 10 mil habitantes em idade profissional produtiva.

A maior parte das unidades robóticas é dedicada à fabricação de eletrônicos e veículos automobilísticos. Os dadossão da Federação Internacional de Robótica e mostram ainda como a China despontou no setor (mais um!) com um crescimento de 25 unidades em 2013 para 68 em 2016. A ideia do governo chinês é levar o país ao top 10 do automatismo, com 150 robôs para cada 10 mil empregados já em 2020.

Um resumo de 2017 em vídeo, feito pela Federação Internacional de Robótica

Os robôs do futuro e do presente

As indústrias de automóveis e de eletrônicos ainda são o grande foco dos fabricantes de robôs. De acordo com o World Robotics Report, divulgado pela IFR, as vendas de robôs industriais saltaram de 294 mil unidades em 2016 para 387 mil em 2017, um aumento de 31%.

Segundo Meggiolaro, no entanto, a tendência é que essa lógica comece a mudar e que se observe mais empenho dos fabricantes em relação à robótica de consumo. “Com os robôs móveis, que vão desde automóveis a robôs aspiradores de pó, a robótica de consumo tem tido um crescimento muito grande. Esse mercado tem muito mais clientes para atender”, explica.

br-blog-robos-do-futuro-03O crescimento da entrega mundial de robôs cresce ano a ano, segundo a Federação Internacional de Robótica

Tonidantel, presidente da RoboCup Brasil, concorda. “Estamos na iminência de uma explosão de um modelo mais disruptivo de robô: o de serviço”, afirma.

“Indústrias de comércio online como Amazon, Alibaba e outros já possuem seus estoques controlados por multi-robôs autônomos e inteligentes, como o caso da Kiva System. As casas começam a ter robôs para diversas tarefas e em breve teremos robôs de forma mais atuante na agricultura, como assistente pessoal, nos bancos, supermercados e nas ruas em forma de carros autônomos.”

O Brasil na corrida robótica

A essa altura, você pode estar pensando que ainda é caro ter um robô de serviço. Basta ver os preços daqueles que aspiram cada canto da casa enquanto você está no trabalho ou dormindo, que chegam a US$ 500.

O pensamento faz sentido, especialmente para o consumidor brasileiro, porque a maior parte dos produtos vendidos aqui é fabricado por empresas estrangeiras, o que significa um encarecimento grande por conta dos impostos. Mas pode mudar.

“Existem algumas empresas brasileiras que estão avançando graças ao crescente interesse pela robótica. Elas têm como foco robôs que auxiliam a defesa e segurança, como a Armtec, ou serviços específicos como inspeção de dutos, como a Pipeway. Existe ainda uma quantidade razoável de empresas que foca na produção de robôs para escolas, universidades e institutos de pesquisa. E há grandes empresas, como a Petrobrás, que produzem robôs para uso interno”, diz Flávio Tonidantel.

A quantidade de estudantes brasileiros interessados em robótica aumenta a cada ano, o que tem levado o país a diversos eventos e premiações da área e pode, eventualmente, levar à abertura de mais empresas do setor.

A Olimpíada Brasileira de Robótica, por exemplo, é considerada um dos maiores eventos do mundo, com mais de 100 mil alunos na modalidade teórica e pelo menos 3 mil equipes na modalidade prática. Ali, os participantes devem construir e programar robôs autônomos para realizar uma tarefa simulada de resgate de vítimas.

Na RoboCup Mundial, o Brasil está em quase todas as categorias e se destaca como um dos países com maior participação, assim como nos torneios da FIRST e da RoboCore.

“Arrisco-me a dizer que o Brasil está prestes a se tornar um dos grandes desenvolvedores, empreendedores e produtores da robótica mundial. Embora ainda estejamos tímidos, com pequenas empresas financiadas em sua maioria pelo governo, estamos em uma boa crescente. Com esses alunos chegando em sua idade adulta, com espírito empreendedor, novas empresas deverão surgir nos próximos anos”, completa Tonidantel.

E a inteligência artificial na robótica?

Filmes como O Homem Bicentenário e Star Wars costumam ser a referência sempre que surge o assunto “robôs” em uma conversa.

Apesar de já existirem exemplares humanoides, no entanto, a intenção dos fabricantes não é criar robôs para substituir os humanos, mas sim facilitar o dia a dia (através de robôs de consumo) e permitir que a humanidade dê um salto nas relações trabalhistas com atividades que envolvam robôs industriais e a possibilidade de exercitar mais a mente do que o corpo.

E onde entra a inteligência artificial nesse momento? Principalmente nas situações que exigem escolhas e interação com sistemas não integrados ao robô, ou seja, quando é preciso escolher uma ação e não outra com base no que está acontecendo.

Como funciona o carro autônomo da Tesla?

“A inteligência artificial contribui principalmente com robôs móveis, que exigem um reconhecimento do ambiente: eles precisam não só saber onde estão, mas também reconhecer objetos com os quais vão interagir”, avalia Marco Antonio Meggiolaro, coordenador da RioBotz.

“Isso tem sido necessário para termos, por exemplo, automóveis autônomos que conseguem reconhecer o pedestre para poder frear e desviar dele, assim como descobrir onde tem uma bifurcação na estrada. Tudo isso envolve inteligência artificial e tem sido fundamental para a nova geração de veículos robóticos.”

Os robôs que contam com inteligência artificial (IA) podem ter um imenso impacto no dia a dia e realmente salvar vidas ao, por exemplo, substituir seres humanos em trabalhos perigosos ou explorar ambientes de grande perigo, como Fukushima e outras áreas de desastre.

Segundo Tonidantel, há algumas áreas de IA que já influenciam diretamente o desenvolvimento da robótica, como:

  • Visão computacional, que permite que o robô enxergue um ambiente e detecte objetos para tomar decisões
  • Machine learning e deep learning, que permitem que robô aprenda detalhes sobre o mundo e tome decisões sobre ele
  • Planejamento automático de ações, que permite ao robô decidir um plano de ações para atingir objetivos a médio e longo prazos
  • Processamento de linguagem natural e reconhecimento de imagens, que permitem melhores interações com humanos

Em um futuro não muito distante, a inteligência artificial estará nas ruas, no trabalho e no seu bolso de forma tão natural que nem vamos lembrar que se trata de robôs.

“Não vai ser aquela ideia do robô humanoide que vai trabalhar na sua casa. Isso não é prático, fica muito caro e ele só consegue fazer uma tarefa de cada vez”, fala Meggiolaro. No lugar, “você vai ter uma casa inteira para fazer tudo ao mesmo tempo, vai entrar em um carro autônomo e se deslocar sem precisar dirigir. E ninguém vai chamar isso de robô”.

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quinta-feira, 6 de setembro de 2018
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