Protetor solar eficaz para cabelos, desenvolvido no CTC, é matéria no O Globo

Um estudo da Profª. Ana Percebom, do Departamento de Química do CTC/PUC-Rio, foi matéria no site do Jornal O Globo, publicada no dia 7 de setembro. A pesquisa trata-se do desenvolvimento de um filtro solar específico para cabelos, o primeiro capaz de proteger, de fato, os fios contra a exposição aos raios ultravioleta, e sem que o cabelo fique oleoso. Confira a matéria, na íntegra:

Pesquisa brasileira descobre primeiro protetor solar eficaz para cabelos

Não é difícil encontrar, em qualquer farmácia, uma série de protetores solares feitos especialmente para os cabelos. A questão é: eles de fato evitam que a radiação penetre nos fios? Segundo Ana Percebom, professora do Departamento de Química da PUC-Rio, a resposta é não.

— Os produtos hoje à venda só dão proteção contra vento e calor — diz ela.

A professora explica que os protetores para cabelos existentes no mercado se concentram em evitar o ressecamento e a degradação da queratina do cabelo, mas não contêm os filtros contra UVA e UVB que são encontrados nos protetores solares aplicados na pele. Isso porque, caso contivessem esses filtros, os produtos deixariam o cabelo completamente oleoso, o que faria sua aceitação cair por terra.

Mas é aí que entra uma pesquisa realizada na PUC nos últimos dois anos, cujo principal resultado foi conseguir, com nanopartículas, encapsular o óleo contra radiação geralmente usado na pele de forma que ele seja liberado aos poucos ao longo dos fios. Com isso, não haveria sensação de oleosidade e os cabelos ficariam protegidos dos raios ultravioleta.

Ana Percebom foi a orientadora da pesquisa, que é resultado da dissertação de mestrado em Química de Amanda de Azevedo Stavale. O estudo foi apresentado no 31° Congresso Brasileiro de Cosmetologia, realizado de 22 a 24 de maio, em São Paulo, e está prestes a ser publicado em uma renomada revista científica da área.

— Não criamos uma nova substância, e sim uma nova formulação, um novo “veículo”, com o uso de nanopartículas que funcionam como cápsulas para a mesma substância que protege a pele — explica Ana. — E fizemos adaptações específicas para essas cápsulas se depositarem bem na superfície do cabelo.

Segundo a professora, o uso deste veículo faz com que o produto atue não apenas como um protetor químico, mas também físico, pois absorve e também reflete a radiação do sol, graças às nanopartículas, que atuam como se fossem minúsculos espelhos.

Os testes in vitro realizados mostraram que o produto alcança um nível de proteção equivalente ao FPS 15 — terminologia usada para se referir à proteção da pele.

— É um valor que consideramos de boa proteção — diz Ana Percebom. — Isso, no entanto, não impede que a concentração seja aumentada para conseguir um percentual ainda maior de óleo e chegar a um FPS superior a 15.

A professora afirma, ainda, que foram feitos testes que confirmaram a boa durabilidade do efeito de proteção do filtro, que também é à prova d’água.

— Aplicamos o produto em placas que simulam a superfície do cabelo e depois as colocamos de molho em água por 30 minutos. As análises das placas mostraram que o produto não saiu na água e ainda continuou ativo — diz ela, destacando, porém, que o produto foi testado apenas com água pura, e não com água do mar ou com cloro.

A especialista destaca que, para o produto entrar no mercado, seriam necessários uma série de outros teste, inclusive em seres humanos. Até o momento, o protetor capilar so foi testado em laboratório.

Não há ainda previsão de alguma parceria com empresa de cosméticos para produzir em larga escala.

Ao apresentar os resultados à Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a resposta foi positiva:

— O estudo é muito interessante e traz uma esperança em relação aos filtros solares para cabelos. Porém, ainda é preliminar e necessita de mais testes clínicos em seres vivos — comenta Bruna Duque Estrada, coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD.

OUTRAS APLICAÇÕES: REPELENTE DE INSETOS E ATÉ AGROQUÍMICO

A professora conta que uma série de outras aplicações são possíveis com as mesmas nanopartículas usadas na elaboração do protetor capilar. Entre elas, está um repelente de insetos om base em citronela e até alguns agroquímicos para proteger plantações.

No caso do repelente, a grande vantagem seria usar as cápsulas feitas com nanopartículas para “prender” o óleo de citronela, evitando assim que ele se dissipe rapidamente. Ingrediente natural, o óleo de citronela é um ótimo repelente de insetos, mas tem contra si o fato de que ele evapora extremamente rápido. A função das nanopartículas seria fazer com que ele fosse liberado aos poucos.

— Só assim o indivíduo poderia passar o óleo no corpo e ficar protegido ainda por horas — avalia Ana a química Percebom, que dará continuidade à pesquisa sobre protetor solar, mas desta vez focada em repelentes naturais.

Outra possibilidade de pesquisa — que já despertou o interesse de algumas empresas da agroindústria — envolve a criação de agroquímicos, que teriam suas substâncias encapsuladas pela mesma classe de nanopartículas.

— Da mesma forma como fizemos adaptações especialmente para que as cápsulas se depositassem bem na superfície dos cabelos, a ideia é fazer com que elas adquiram aderência à superfície das plantas — afirma a pesquisadora. — Por isso decidimos não patentear essa nova formulação: queremos que seja possível utilizá-la em prodiutos variados, por diversas empresas.

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segunda-feira, 10 de setembro de 2018
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