Coordenadora do grupo
e pesquisadora da PUC-Rio, Profª Patrícia Lustoza de Souza, ressalta valor da
pesquisa em semicondutores para o Brasil
Nos dias 07 e 08 de novembro, 16
pesquisadores de todo Brasil, integrantes do Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia de Nanodispositivos Semicondutores (INCT-DISSE), se reuniram em Belo
Horizonte, MG. A proposta do grupo — formado por cientistas da PUC-Rio, UFRJ,
CEFET-Petrópolis, USP, IEAv, Unicamp e UERJ — é fortalecer parcerias acadêmicas
com o intuito de sensibilizar os órgãos apoiadores de pesquisa para
investimento em projetos de ponta realizados pelo grupo. Os
materiais semicondutores são a matéria-prima para a produção de
dispositivos eletrônicos e optoeletrônicos, como lasers (para ler CDs e DVDs),
LEDs e fotodetectores (como os de infravermelho, para fazer instrumentos que
detectam a presença de gás tóxico e câmeras de visão noturna, por exemplo).
Com a generalizada falta de recursos
e o congelamento das bolsas da Capes, a situação se agravou a partir de 2016,
quando o INCT-DISSE, por apenas quatro posições, não ficou entre os 102
projetos selecionados para financiamento na segunda chamada pública INCT –
MCTI/CNPq/CAPES/FAPs. Na ocasião, ele recebeu o Selo INCT, que reconhece a excelência
do projeto e o credencia para solicitar aporte de recursos de outras
entidades.
Tendo isso em mente, as principais
reinvindicações do grupo nesta reunião em BH trataram de como conseguir
recursos para manter a articulação entre os cientistas, incluindo estudantes e
verbas para a manutenção dos laboratórios em funcionamento. “Para sermos
competitivos, precisamos de R$ 1 milhão. Para mantermos as pesquisas básicas,
precisamos de, pelo menos, R$ 500 mil, ambos em valores anuais”, reforça
Patrícia Lustoza de Souza, coordenadora do INCT-DISSE e do LabSEM/PUC-Rio
(Laboratório de Semicondutores), do Centro Técnico Científico da PUC-Rio
(CTC/PUC-Rio).
Entre as opções sugeridas, foi
discutida a busca de financiamento internacional em agências europeias, agências
da defesa americana e entre os países integrantes dos BRICs (Brasil, Rússia,
Índia e China). A reunião também foi uma excelente oportunidade para o
compartilhamento de equipamentos entre os pesquisadores, visando
priorizar o conserto dos que são exclusivos, deixando os que estão em
duplicata para outra ocasião.
A falta de verba coloca em risco
importantes trabalhos realizados pelo INCT-DISSE que estão em curso, como o
desenvolvimento de fotodetectores que operem a temperatura ambiente, um desafio
internacional, ou de células solares de terceira geração. A coordenadora da
PUC-Rio ressalta ainda que há diversas outras pesquisas de ponta feitas pelo
grupo e que o Brasil está plenamente capaz de liderar, como as que tratam de
Sistemas de portas lógicas usando cristais fotônicos, Sistemas de óptica
integrada para lifi (wifi pela luz de iluminação de LEDs para sistemas locais
com geolocalização, como metrô, prédios isolados etc). “Os semicondutores
também estão presentes em fotodetectores de infravermelho para monitoramento
ambiental e industrial, dentre outras aplicações, e o INCT-DISSE trabalha na
busca por novos materiais bidimensionais que podem ser o futuro da
nanoeletrônica e nanofotônica, e na integração dos dispositivos de fotodetecção
em circuitos integrados de imageamento”, ressalta Patrícia Lustoza de Souza.
“Somos uma equipe muito coesa,
trabalhamos intensamente em projetos em equipe entre os anos 2009 e 2015, com
excelentes resultados”, ressalta Patrícia Lustoza de Souza. No período, a
equipe do INCT-DISSE se consolidou como produtora de material semicondutor de
primeira linha e fotodetectores de infravermelho nanoestruturados, com a
obtenção de valores recorde de figuras de mérito, o desenvolvimento de
circuitos para operação dos fotodetectores, a prototipagem de um equipamento de
detecção de fuga de gás carbônico, a medição da quantidade de proteína no leite
usando detecção infravermelha, a proposição de novas arquiteturas de
microcavidades, a investigação referente ao acoplamento de pontos quânticos
visando à computação quântica e a continuidade da difusão científica com o
desenvolvimento e a distribuição em escolas públicas de um kit de experimentos
no infravermelho denominado “Ver o Invisível”.
O LabSEM da PUC-Rio, sob sua
coordenação, conta, desde 2012, com o mais moderno equipamento de deposição de
materiais semicondutores existente na América do Sul. Atualmente, ele está
operando precariamente e com muitas interrupções, justamente por falta de
verbas para manutenção. O laboratório alimenta com essa matéria-prima, além dos
grupos de pesquisa da PUC-Rio, cerca de 15 grupos no Brasil e também três
internacionais, além de fornecer material para órgãos governamentais, como, por
exemplo, o Ministério da Defesa, incluindo Exército e Aeronáutica.
A pesquisadora chama ainda atenção
para países como China e Coreia, líderes mundiais em semicondutores, com
elevados investimentos em pesquisas na área, fazendo o setor evoluir. “Nós
também fazemos pesquisas importantes, que envolvem cientistas e estudantes de
todo o Brasil. Nossa reunião nos fortalece, nos incentiva a buscar cada vez
mais novas opções de financiamento, em um momento em que a pesquisa no país,
infelizmente, vem passando por um momento muito difícil. Por aqui, fazem um
aporte inicial, mas abandonam antes da consolidação e o investimento é
totalmente perdido”, finaliza Patrícia Lustoza de Souza, ressaltando que os
interessados em apoiar o INCT-DISSE podem fazer contato pelo e-mail secretarialabsem@cetuc.puc-rio.br.