Motores recondicionados desperdiçam mais de 8 TWh, cerca de R$ 1,6 bi de prejuízo

A cifra de R$ 1,6 bi é a perda estimada decorrente do recondicionamento de todos os motores elétricos em operação no País. Empresas brasileiras retificadoras de motores que não cumprem os índices mínimos de eficiência definidos pela Portaria N488 do INMETRO, de 08/12/2010, que trata do funcionamento e do gasto energético adequados destes equipamentos, colocam no mercado motores ineficientes que desperdiçam cerca de 8 TWh por ano. Este é o resultado do estudo conduzido pela PUC-Rio e pelo Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre) realizada em cinco estados – Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia – e em 40 retíficas de motores selecionadas por amostragem. Levando em conta apenas os motores recondicionados anualmente, o prejuízo observado chega a R$ 480 milhões. Os motores elétricos utilizados em processos industriais dos mais diversos – de ventiladores a bombas hidráulicas – são responsáveis por 25% de toda a energia consumida no país.

A pesquisa constitui o maior levantamento feito no Brasil sobre motores reformados e busca um entendimento mais aprofundado de dois mercados: o de serviços de reparo de motores e o de motores reformados que voltam à atividade nas indústrias. Ao disponibilizar informações sobre o recondicionamento de motores e o desperdício de energia representado pela baixa eficiência dos motores reformados, o estudo oferece ao empresariado a possibilidade de ponderar mais precisamente o custo x benefício de aquisição de equipamentos reformados versus novos. Para o poder público, os dados podem subsidiar políticas de incentivo para a troca de motores e a definição, inclusive, de um número limite de recondicionamentos, além de ser um instrumento para adoção de medidas de fiscalização junto às retíficas, com foco na melhoria do serviço oferecido.

Parque de motores retificados chega a 90%

Segundo o estudo, o total de motores trifásicos existentes no país soma pouco mais de 20 milhões de unidades (20.150.740). Destes, apenas 10,6% (2.134.589) representam motores novos produzidos no Brasil, com menos de quatro anos de uso.

Em uma primeira pesquisa, conduzida em 2014, a PUC-Rio e o Procobre já haviam constatado uma queda acentuada no mercado de motores novos (fabricados no Brasil ou importados) em detrimento dos motores recondicionados, representando na época uma perda de eficiência energética de 7 TWh para o país. “O cenário piorou sensivelmente. Passados pouco mais de quatro anos, a perda energética cresceu quase 20%, chegando a 8,43 TWh ao ano, o que seria suficiente para abastecer 4,5 milhões de moradias. Para os empresários, donos de indústrias, esse montante de energia ao custo total das tarifas aplicadas pelas distribuidoras equivaleria a uma perda de R$ 4,5 bilhões”, enfatiza Glycon Garcia, diretor executivo do Procobre.

Entre retíficas, pequenas, sem estrutura, são maioria

Quanto ao total de empresas brasileiras retificadoras de motores, a pesquisa reportou o total de 6.503, das quais 5.584 (86%) são empresas de pequeno porte, 849 (13%) de médio porte e 70 (1%) são grandes empresas. Entre as pequenas, a maioria (quase 60%) oferece serviços de baixa qualidade, tem estrutura precária e há falta de qualificação ou treinamento profissional dos funcionários. Para o Professor Rodrigo Calili, do Programa de Pós-Graduação em Metrologia do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, as empresas recondicionam motores industriais sem condições de uso, muitas vezes adquiridos como sucata, e que nunca deveriam voltar ao mercado.

Economia que não se justifica

O estudo também se propôs a mostrar o grau de conhecimento dos empresários quanto à aquisição de equipamentos reformados e à perda de eficiência energética desses motores quando comparados a motores novos, como os da categoria premium. “Ficou claro pelo estudo que a manutenção de motores antigos está atrelada à diferença de custo entre mandar recondicionar – ou comprar um motor recondicionado – e adquirir um motor novo, sem pesar o gasto energético dos equipamentos”, avalia Calili. “Ainda que, à primeira vista, o preço mais barato seja mais atrativo, os motores obsoletos possuem eficiência comprometida, vida útil curtíssima e consumo energético excessivo, o que acaba encarecendo o motor reformado”, sustenta o professor da PUC-Rio.

Estima-se que a cada recondicionamento de um mesmo motor ocorra a perda de 2% do seu rendimento e que o total de motores recondicionados seja responsável por 2,8% da emissão de gases de efeito estufa (GEE) liberados na atmosfera só no Brasil. O estudo aponta também que cada 1% de perda de energia evitada geraria uma economia R$ 16,2 milhões em investimentos de expansão pelas concessionárias.

Pesquisa PUC/Procobre colabora com o MME

Para buscar alternativas à substituição de motores reformados, foi criado um grupo de trabalho no âmbito do Comitê Gestor de Indicadores de Eficiência Energética (CGIEE) do Ministério das Minas e Energia (MME), com o objetivo de melhorar a eficiência de motores recondicionados. As ações em andamento contemplam um projeto da Norma Brasileira de Reparos de Motores de Uso Geral, para regulamentar os serviços de retífica; workshops para conscientizar setores envolvidos; inclusão do tema nos projetos do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel); criação de um curso no Senai sobre reparos de motores e elaboração de uma cartilha de orientação para o usuário de motores recondicionados.

A pesquisa completa pode ser consultada no link: https://www.procobre.org/pt/publicacion/pesquisa-mercadologica-sobre-motores-recondicionados/. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019
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