Ex-ministro Francisco Gomide defende novos reservatórios e usinas em palestra na PUC-Rio

Evento foi promovido pelo programa de pós-graduação do Departamento de Engenharia Civil da Universidade e pelo Núcleo RJ do Comitê Brasileiro de Barragens

 

“Prêmio Ignóbil de Economia”. Com essa classificação, o ex-Ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique Cardoso, engenheiro, professor titular da Universidade Federal do Paraná e CEO da GMD Organização Industrial e Engenharia, Francisco Gomide criticou a atual situação energética do Brasil na palestra “Reservatórios, Segurança Hídrica e Energética”. Sob seu comando, a palestra realizada no dia 14 de agosto, na PUC-Rio, abriu o segundo semestre de aulas da Pós-graduação do Departamento de Engenharia Civil do Centro Técnico Científico da Universidade. Gomide apresentou a riqueza hídrica brasileira e a real necessidade de novos reservatórios para o desenvolvimento do País. Ao chamar de “Fundamentalistas Equivocados” os adeptos da campanha negativa com relação às usinas hidrelétricas e barragens — e que já dura 40 anos — Gomide foi enfático ao defender os reservatórios como uma necessidade real para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza.

Com auditório cheio, Gomide alertou para o conflito entre Ciências e Humanidades, apresentado no livro “Duas Culturas”, do físico Charles Snow, já em 1959, e que, segundo Gomide, inviabiliza a construção do consenso entre progressistas e ambientalistas. Ao ressaltar que os recursos naturais são a matéria-prima da engenharia, o ex-Ministro frisou que não faz o menor sentido não classificar as usinas hidrelétricas como energia limpa: “falam apenas das energias eólica e solar”, disse ele.

Citando também o autor Vaclav Smil, Gomide ressaltou que a energia é uma moeda universal e que, apesar de não haver leilões de usinas hidrelétricas há cinco anos, elas são as mais baratas com relação às demais fontes energéticas em uso no Brasil — solar, eólica, térmica e nuclear. Além disso, diz ele “a oposição irracional que acusa usinas, barragens e reservatórios de destruírem o meio ambiente, não vê que existem medidas que atenuam a adaptação das espécies ao novo – e frequentemente melhor – ambiente ecológico”. No que diz respeito às pessoas, ele confirmou que é possível transferi-las para outros locais, promovendo, inclusive, melhorias em sua qualidade de vida a partir desta nova realidade.

Gomide também apresentou sua teoria estocástica dos reservatórios, reforçando a importância da operação integrada de reservatórios para o pleno atendimento da demanda energética do Brasil. “Pagamos a energia mais cara e poluente do mundo. Temos o continente com a maior quantidade de água do planeta e não aproveitamos este potencial. Estamos a caminho do desastre, pois vai faltar energia se não construirmos o quanto antes novos reservatórios, barragens e usinas hidrelétricas”, alertou. Ele chamou atenção ainda para a questão das mudanças climáticas, que evidenciam ainda mais a urgência de novos reservatórios em função do aumento de enchentes e estiagens e que podem funcionar como “baterias gigantescas”, essenciais em função da maior participação da energia intermitente das usinas eólicas e solares no sistema elétrico brasileiro. “O Brasil tem duas das três maiores concentrações de potencial hidrelétrico do planeta. Temos todas as condições para seguirmos o exemplo dos EUA, que tem mais de 75 mil barragens”, concluiu Gomide.

O ex-Ministro de Minas e Energia finalizou sua fala com a frase “O mundo é VICA: Volatilidade, Incertezas, Complexidade e Ambiguidade”, reforçando os desafios que a Indústria 4.0 tem pela frente. Sua apresentação defendeu soluções para resolver as questões energéticas brasileiras: uso da tecnologia a favor do meio ambiente (seguindo a premissa básica de que a melhores práticas da engenharia são, necessariamente, práticas sustentáveis), criação de um Fundo Soberano de equivalência dos recursos naturais e uma revolucionária reforma política para garantir a integridade do processo de elaboração e aplicação das leis.

A mesa do seminário contou também com a participação dos engenheiros Alberto Sayão, Professor do Departamento de Engenharia Civil do CTC/PUC-Rio; Geraldo Magela, do Conselho Deliberativo e membro do Núcleo RJ do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) e CEO da Magela Engenharia e Watermark Engenharia; Flávio Miguez, Vice-presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e Professor de Engenharia Civil da UFRJ. A palestra foi uma parceria da PUC-Rio com o CBDB e contou com o apoio da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), da ANE e das empresas Huesker e Maccaferri.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Carregando