Estudo analisou
notificações até 10 de abril e elas representam apenas 8% dos casos de COVID-19
Em sua Nota
Técnica nº 7 (NT7) “Análise de subnotificação do número de casos confirmados da
COVID-19 no Brasil”, o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS)
analisou o nível de subnotificação dos casos oficiais de coronavírus até 10 de
abril no Brasil e em cada Estado. A proposta é fornecer dados para estimar a
dimensão real da doença no Brasil. Os resultados indicam que as notificações
representam apenas 8% dos casos e, com isso, o número real pode ser até 12
vezes superior ao oficial do Ministério da Saúde.
A situação nos Estados é bem dispersa. Como cada um tem uma evolução diferente do número de casos a metodologia aqui aplicada pode gerar distorções no caso de Estados com poucas notificações. Os números podem variar de um dia para o outro, principalmente porque, em sua maioria, os Estados ainda estão no início da curva da doença.
Baixo número de testes e demora nos
resultados interferem nos números oficiais
A confirmação dos
casos é a única forma de avaliar a evolução do COVID-19 no Brasil. Segundo
orientação do Ministério da Saúde, apenas os casos mais graves estão sendo
testados e, ainda assim, nem todos os casos suspeitos deste grupo estão sendo
examinados. O elevado grau de subnotificação pode sugerir uma falsa ideia de
controle da doença e, consequentemente, levar ao declínio na implementação de
ações de contenção, como o isolamento horizontal.
Em São Paulo, que
detém a maioria dos casos confirmados no país, apenas 24% do total de testes
para COVID-19 foram entregues, segundo os dados do boletim
epidemiológico da COVID-19 divulgado pelo Centro de Vigilância
Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo em 07/04/2020. Ao
comparar a testagem no Brasil com a de outros países, ela ainda é muito baixa.
Metodologia
Para medir o percentual de subnotificação, o estudo seguiu três etapas. Primeiro, fez o cálculo da taxa de letalidade (Case-Fatality Ratio, ou CFR). De acordo com a orientação da OMS, para a CFR base, ela sugere que a taxa varie conforme a faixa etária do paciente. Em seguida, calculou a CFR observada, que são os casos em que o paciente contraiu a doença, se recuperou ou faleceu, levando em conta de que há uma distribuição de probabilidade com média de 13 dias entre a hospitalização e o desfecho. Com esses dois dados, a terceira e última etapa foi ver a diferença entre ambos: quanto maior, menor a taxa de notificação, e vice-versa.
O Brasil deveria ter uma CFR observada de 1,3%, contra os 16,3% constatados. Outro ponto a ser sinalizado é que os países com maior taxa de CFR observada são os que apresentam maior subnotificação.
O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS) é um grupo de pesquisa formado por profissionais de diversas instituições: Departamento de Engenharia Industrial/PUC-Rio, Instituto Tecgraf/PUC-Rio, Marketing & Analytics/BizCapital, Rio de Janeiro, Brasil Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal), Espanha, Divisão de Pneumologia/InCor, Hospital das Clínicas FMUSP, Universidade de São Paulo, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). As análises e previsões aqui divulgadas representam as opiniões dos autores envolvidos no estudo e não necessariamente das instituições às quais são associados.
Mais informações em https://sites.google.com/view/nois-pucrio e no Twitter do
NOIS: https://twitter.com/NOIS_PUCRio.